LUGARES COMUNS
09.04.2021 - 18.06.2021
Luís Coquenão
Na sequência de ideias manifestadas em trabalhos anteriores,
o tema central da exposição destaca a constante transformação da natureza e do
fluxo do tempo como uma narrativa contínua. Com a aplicação da improvisação
gestual como ação resultante da utilização de técnicas aleatórias como meio de
recomposição da ordem do significado implícito no acaso, o processo passa a
revelar uma série de horizontes gráficos. Inerentemente poéticos, estes
horizontes e paisagens em mutação contêm o estado de fluxo descrito dentro da
filosofia de Heráclito, que reconhece as transformações contínuas e a
impossibilidade intrínseca de permanecer o mesmo e de ser contido.
Juntamente com a aplicação da água na superfície, a gravidade entra em ação
para revelar a imprevisibilidade do resultado final das pinturas. É evidente
como este gesto improvisado, este acaso metódico, pode ser entendido como um
exercício que nos permite chegar ao imprevisto. Aqui, o significado de
causalidade não deve ser confundido com o conceito de acidente, mas sim
discutido como o uso metódico do acaso e as formas que este pode assumir na
arte e, mais especificamente, na pintura. Tal como a autora Sarah Troche
descreve, "O acaso apenas levanta uma questão onde rompe com o paradigma
do acidente". O acaso, distinto do acidental sem forma, é considerado como
um método atento no qual o inconsciente é explorado conscientemente.
A perceção da realidade de cada pessoa é única e muda no momento em que
entramos num novo presente fugaz que, paradoxalmente, também se apresenta como
familiar e não familiar. À medida que identificamos o mundo em termos de como
ele nos molda e, em resposta, como nós o moldamos, "Lugares Comuns"
interessa-se pelo próprio ato de pintar como uma forma de explorar o que é
considerado comum entre nós.
Despoina Tzanou
Curadoria
Guilherme Braga da Cruz
Duarte Sequeira
Texto crítico
Despoina Tzanou
Design Gráfico
Joana Paulino
Montagem
Sérgio Peixoto
Fotografia
Adriano Ferreira Borges